Seja promovido como desenvolvedor. Rápido.
Estratégias que podem ser utilizadas em qualquer momento da sua carreira
Eu quero te ajudar a internalizar que a sua capacidade de criar impacto e gerar valor não devem ser limitados ao seu tempo de experiência nem ao seu cargo. Utilizando os conceitos e estratégias abaixo, eu consegui ser promovido de Junior a Tech Lead em apenas 5 anos, e acredito que qualquer pessoa consegue replicar o que fiz.
(Disclaimer) Sorte e Circunstâncias
Refletindo um pouco sobre a vida é fácil chegar a conclusão que muitos acontecimentos, bons ou ruins, não tiveram absolutamente nada a ver com as suas ações. Você teve sorte (ou azar) de estar lá. Eu quero reconhecer alguns desses momentos aqui, pra não parecer que absolutamente tudo que aconteceu comigo foi fruto de um grande plano que tracei no auge dos meus 19 anos de idade. Porque não foi.
Tive uma orientadora incrível na faculdade, que me apresentou lá em 2019 (quando Kubernetes era mato) ao meu co-orientador e a quem seria o meu primeiro mentor. Meu trabalho de conclusão de curso foi sobre Kubernetes e micro-serviços, então eu tive o privilégio de ser exposto às tecnologias que hoje são padrão no mercado quando elas ainda eram relativamente verdes no Brasil.
Meu primeiro mentor foi um dos membros da banca do meu trabalho de conclusão de curso. Já saí da faculdade com uma proposta de emprego pra trabalhar com o cara mais competente tecnicamente que conheci até hoje. Se isso não for sorte… não sei o que é.
Eu não tenho filhos, sempre tive tempo para estudar, e apesar de não ter vivido uma vida fácil, nunca passei dificuldade.
Eu aprendi inglês ainda adolescente tocando violão e cantando, e fiquei fluente na faculdade, estudando com indiano no YouTube e tendo que me virar com livros em inglês, porque achar o PDF para eles era muito mais fácil. Então na melhor das hipóteses podemos atribuir isso a minha curiosidade, e na pior, a necessidade. Certamente não foi porque sou disciplinado e resolvi aprender inglês porque achei que me ajudaria na minha carreira.
Beleza? Beleza. Bora lá!
Aprenda a aprender
Na minha opinião, não existe qualidade mais valiosa do que conseguir aprender coisas rápido. É o que vai te dar a confiança para responder para o chefe: “Não sei fazer isso. Ainda…”.
É o que vai te fazer enfrentar coisas novas com ânimo, ao invés de medo. Existem inúmeras técnicas de aprendizado, mas a esmagadora maioria gira em torno do seguinte:
Preparo: dedique tempo para planejar e se familiarizar com o conceito. Só tome muito cuidado para não transformar planejamento em procrastinação. Não gaste mais tempo to que o suficiente para saber o que fazer e conseguir se corrigir.
Quanto tempo tenho para me dedicar?
Que ferramentas vou precisar?
Onde ou com quem posso aprender?
Desconstrução: tenha clareza sobre o que você quer fazer com o que você esta aprendendo e tenha uma definição de sucesso.
Quão bom quero/preciso ficar nisso?
Como vou medir meu progresso?
Como posso dividir isso em múltiplas etapas para ter sensação de progresso?
Imersão: mantenha o máximo de contato possível com o que você quer aprender.
Como introduzir isso no meu cotidiano?
Como tornar a prática inevitável ou extremamente conveniente?
Com quem posso interagir e falar sobre isso?
Emocional: todo mundo é ruim quando começa.
Não posso me culpar por não saber, apenas por não querer aprender
Minha identidade não é definida pelo meu conhecimento, mas pelas minhas ações
Falhar não é o fim do mundo
Ensinar: ajude pessoas a seguir uma trajetória melhor que a sua.
Refletir sobre o seu planejamento e a sua prática vai te ajudar a projetar o seu próprio futuro
Agregar e sintetizar seu conhecimento vai aumentar seu entendimento drasticamente
Aprender para ensinar adiciona uma camada de propósito, deixando a jornada muito mais prazerosa
Existem inúmeros outros conceitos que te ajudarão a aprender mais rápido, como repetição espaçada e o método pomodoro.
Uma observação
Profissionais experientes não têm medo de tecnologias novas, eles são apenas cautelosos. A medida que o tempo passa, o tempo se torna mais escasso e precioso, e precisamos nos dedicar ao que vai agregar o máximo de valor possível.
A gente pode sentar e aprender esse framework novo de Javascript em 2 dias, mas… vale a pena?
Use os videos abaixo para entender melhor sobre os conceitos acima e mergulhar nesse tópico fantástico:
Procure ajuda
Precisamos de pessoas para nos manter na trajetória menos desgastante, tirando ou te alertando sobre as pedras no caminho. Se você estiver andando de chinelo, vão te ajudar a comprar e calçar um sapato pra quando a inevitável topada de dedão acontecer, ela doer menos.
Quando tentamos fazer as coisas sozinhos, na melhor das hipóteses vamos andar em zig-zag, na pior, vamos sair por uma tangente e nunca voltar para o caminho mais produtivo possível.
Mentor, coach ou sponsor?
No Brasil, o termo “coach” tem uma aura pejorativa. Coisa de charlatão. Não estou falando desses coachs que você ta pensando!!!!
Você precisa dos três, mas vamos focar em mentoria. As perguntas a seguir ilustram a qual dos três você recorreria para diferentes problemas:
Sponsor: Eu estou preso no meu cargo porque estou sempre ocupado com tarefas que não me permitem mostrar minha competência. Preciso de uma oportunidade para trabalhar em algo relevante.
Coach: Eu não consigo ser promovido e eu não sei porque
Mentor: Eu não consigo ser promovido porque estou com dificuldade para me comunicar de forma eficiente e delegar tarefas. Pode me ajudar contando sobre a sua experiência e como você resolveu um problema similar?
Sponsors precisam estar numa posição de poder, para te destravar. Coaches precisam ter uma quantidade considerável de tempo, conhecimento e dedicação para te ajudar.
Mentores não são necessariamente nossos gerentes ou superiores, mas sim as figuras que você admira e gostaria de reproduzir as atitudes e qualidades. Isso significa que existe oportunidade em qualquer pessoa do seu convívio, e traz a tona uma observação pertinente do Simon Sinek:
💡 Mentor não é apenas quem te ensina coisas. É quem esta disposto a te ouvir e te ajudar, com a mentalidade de aprender com você também.
Por isso, relações de mentoria bem sucedidas geralmente são aquelas em que o mentorado se dedica para criar discussões úteis e traz tópicos proativamente para as mentorias.
Provavelmente, a melhor forma de conseguir encontrar e criar uma relação com um mentor, é entendendo como ser um você mesmo. Isso vai te ajudar a começar conversas construtivas naturalmente, e o relacionamento de mentoria vai ser uma consequência inevitável se as competências dos envolvidos forem minimamente complementares.
Aqui vão algumas observações sobre relações de mentoria:
Reciprocidade: a mentoria não deve ser vista como uma relação hierárquica, mas como uma troca. Você tem tanta responsabilidade de agregar valor quanto o seu mentor.
Auto-avaliação: reflita sobre os seus objetivos e suas limitações. Estruture e sintetize suas dúvidas e idéias. Isso cria o potencial de trazer novas perspectivas para o assunto e gerar linhas de raciocínio originais para o seu mentor.
Honestidade ↔ Mente aberta: para crescer, será preciso falar verdades duras de um lado, e estar aberto para aceitá-las do outro. Se você só quer reafirmação sobre as suas convicções você não precisa de um mentor, é só ligar pra alguém que sempre passa a mão na sua cabeça!
Escute: antes de projetar as suas experiências, se esforce para ouvir a história e demonstrar interesse. Não adianta dar o conselho PERFEITO para alguém que ainda não terminou de falar e não está pronto pra recebe-lo. Se não nos sentirmos ouvidos, não nos esforçamos para ouvir.
Se importe: se você não tem um interesse genuíno em beneficiar a outra pessoa, nem comece. Mentoria não deve ser uma obrigação ou algo forçado.
Informalidade: não é necessário formalizar uma relação de mentoria ou chamar alguém de “mentor”. Muitas vezes apenas trabalhar ou conviver junto da pessoa é suficiente para absorver sabedoria, desde que você se posicione como um bom ouvinte ou um colega de trabalho prestativo.
Proximidade: Idealmente, a relação com o seu mentor será próxima e com encontros recorrentes, sejam eles físicos ou virtuais. Mas você pode encontrar sabedoria e ajuda em livros, blogs, vídeos, etc. Se você estiver fazendo um bom trabalho no itens acima, vai perceber que será muito mais fácil encontrar ajuda.
A essa altura, a expectativa é que você tenha entendido que mentoria não é um “zero-sum game”, onde alguém ganha (sabedoria) e outra pessoa perde (tempo). Ambos precisam sair ganhando. Agregue valor com a sua dedicação, fazendo ela ser percebida e ajudando no propósito do seu mentor, que é te ajudar.
Referências:
Se comunique
Ser O CARA da programação e não se comunicar bem é como ser um pianista que toca com uma mão só. Pode até sair música, mas tanto potencial é desperdiçado que da “dó”.
Se eu te pedir para descrever um profissional de TI, a descrição provavelmente será a de uma pessoa introvertida. E ela estará certa na maioria das vezes.
O que muitos não entendem é que não é preciso ser extrovertido para se comunicar bem. Você precisar ser um comunicador eficiente e não uma matraca.
A característica do extrovertido que queremos é: nos sentir confortáveis com a atenção.
Rahul Pandey costuma dizer que bons desenvolvedores precisam saber contar histórias. Você precisa saber vender seu peixe, saber dizer porque o seu trabalho importa. Isso porque uma promoção só acontece (normalmente) quando o valor que agregamos é discrepante com a expectativa do nosso cargo. Mas isso precisa ser percebido pelos outros, e para isso você precisa se comunicar!
Aqui vão algumas coisas para considerar e te ajudar a se comunicar melhor:
Se adapte: se esforce para entender o que quem está te ouvindo realmente quer saber. Seu colega de equipe provavelmente está mais interessado em saber o quão elegante foi a sua solução e que biblioteca você utilizou, enquanto o gestor só quer saber qual foi a melhora percentual de performance. Falar o que as pessoas precisam ouvir é uma arte a ser dominada!
Seja direto: não é pra ser mal educado. Só não manda um “bom dia” e fica esperando a pessoa responder pra DEPOIS falar o que você quer. Comece conversas com uma intenção clara em mente, dê o contexto necessário sem ficar fazendo o outro perguntar.
Mentalidade: tenha uma postura resolutiva. Ninguém gosta de um reclamão, que só fala o que esta errado e o que não gosta. Crie o hábito de discutir soluções, e não problemas.
Simplifique: ser inteligente não é falar difícil, é falar de forma simples sobre coisas difíceis. Utilizar analogias é um bônus!
Intenção: Não desperdice o seu tempo e nem o dos seus colegas. Além de ser direto, saiba o que você espera da interação. Depois de qualquer boa comunicação, é preciso sair com um ou mais dos sentimentos abaixo:
Transmiti a mensagem que eu precisava;
Entendi o que eu precisava entender;
Sei o que devo fazer em seguida
“O seu sucesso será determinado em grande parte pela sua habilidade em se comunicar, sua habilidade de escrita, e a qualidade das sua idéias. Nessa ordem.”
Patrick Winston
Lembre-se que você tem um mentor! Aplique essas dicas e comece a pedir feedback. Faça apresentações de teste e fale sobre situações problema que você lidou. Esteja preparado para receber opiniões duras e continuar treinando!
Referências:
Multiplique seu valor
Você é único, e isso é uma dádiva. Mas também é uma limitação. Ser único significa que se sua intenção for se tornar a sua melhor versão, o mundo ainda está limitado a se beneficiar de apenas um de você.
Digamos que as suas contribuições possam ser medidas com “pontos de competência”:
Resolveu 10 bugs em um dia? +10 pontos
Revisou 5 PRs em uma semana? +15 pontos
Criou uma análise de custo para a arquitetura nova? +20 pontos
Todas essas coisas têm uma enorme relevância e precisam ser feitas, fazem parte do trabalho. O problema é que geralmente estamos tão focados em fazer o nosso trabalho, que perdemos a oportunidade de gerar valor perene, que vai além da tarefa atual.
Pare de pensar em como adicionar valor e comece a pensar em como replicar seu valor.
Quando criamos processos e documentamos o nosso conhecimento, estamos multiplicando o nosso valor pela quantidade de vezes que ele é replicado por quem o consome.
É muito improvável que outros não possam se beneficiar das lições que você aprende enquanto resolve os seus problemas.
Quem tem uma mentalidade de multiplicação ao invés de adição, acaba pensando o seguinte:
Resolvi 10 bugs: “Vou criar um FAQ ou uma sessão de “Erros Comuns” do projeto”
Revisei 5 PRs: “Já temos um guideline para contribuição? Estou repetindo meus comentários e preciso ajudar os devs a não cometer os mesmos erros nas PRs seguintes”
Criei uma análise de custo: “Outros projetos vão precisar disso, melhor criar um template e deixar alguns comentários explicativos em cada página da tabela”
Documentar seu conhecimento significa ter palavras trabalhando para você (e sua empresa) 24/7. Até que a obsolescência e a deprecação os separe.
Não tente ser lembrado ou se tornar uma referência por ser quem faz tudo com excelência, velocidade e precisão. Se torne uma referência por ensinar como fazer as coisas dessa forma.
É fácil acreditar que quando somos detentores do conhecimento estamos nos fazendo necessários. Na melhor das hipóteses estamos sendo medíocres e sabotando nosso crescimento.
Não podemos ser mesquinhos e esquecer que o melhor jeito de ser promovido é garantindo que existem outros com a competência para assumir nosso lugar!
Seja um estrategista
Imagine o Cristiano Ronaldo. Agora pensa nele entrando numa quadra de basquete e falando com todo mundo (leia com sotaque português):
“Agora vamos jogar basquete apenas com o pé”
Bom, talvez o Cristiano Ronaldo consiga convencer as pessoas a fazer isso. Mas meros mortais têm duas opções caso realmente queiram jogar e ganhar:
Seguir as regras
Buscar outro jogo
Então o primeiro passo é se orientar pelo jogo e as regras que foram impostas a você:
Minha empresa possui um plano de carreira?
Quais são as responsabilidades do meu cargo? E do próximo?
Essa trajetória está alinhada com os meus objetivos de vida?
Quais pessoas precisam ter visibilidade sobre o que estou fazendo?
Qual é a melhor forma de reportar meu progresso, contribuições e valor?
Com essas informações em mãos, junto do seu gerente e/ou mentor, você vai refletir sobre sua posição atual no jogo e compara-la com o seu objetivo:
Em quais aspectos eu supero as expectativas do meu cargo? Em quais estou abaixo?
Estou assumindo projetos e responsabilidades que evidenciam meus pontos positivos e me dão oportunidade de melhorar onde estou abaixo?
Quais requisitos estão claros e já podem ser trabalhados? Quais ainda precisam de um escopo mais bem definido?
Como posso priorizar esses requisitos? Quais devo fazer AGORA? Essa semana? Esse bimestre? Esse….
Depois, é preciso se dar conta que o jogo é cooperativo:
Qual é a tarefa com a melhor relação de esforço x impacto x reusabilidade?
Como posso gerar autonomia ao invés de dependência nos meus colegas de trabalho?
Quais são as iniciativas internas com mais visibilidade/oportunidade?
Ser um estrategista significa se importar com o negócio e com processos, e não somente a linguagem de programação que você quer aprender e o problema que está nas suas mãos nesse momento. Lá fora usam a expressão “not see the forest for the trees”, que significa basicamente focar na árvore ao invés da floresta.
Depois de refletir sobre os itens acima chegou a hora de registrar as suas contribuições e o seu progresso. O objetivo é fazer a vida do seu gerente extremamente fácil na hora de pedir dinheiro para a sua promoção. Se o seu gerente tiver em mãos:
O resumo das suas contribuições em cada projeto ou iniciativa que participou
As certificações e competências que você adquiriu
Feedback de pessoas que trabalharam com você
Métricas principalmente quantitativas do valor que você agregou
Venda seu peixe!! Crie o hábito de documentar as suas conquistas e a sua carreira. A sua história e o seu currículo não deve ser resumida a onde você esteve, e sim ao que você fez e que impacto você gerou.
A linha é tênue entre ignorância e autoconfiança, mas precisamos aprender a nos valorizar e confiar no nosso potencial. Aprenda a distinguir o que é cautela e o que é medo irracional, para que você se permita assumir os desafios necessários para te tirar da sua zona de conforto e crescer.
Referências:
Seu cargo não deve ditar sua capacidade, apenas as suas responsabilidades. Quando nos permitimos executar e agir de acordo com a nossa competência, as promoções acontecem naturalmente.
Se o pensamento de dar o seu melhor e assumir mais responsabilidades te gera ansiedade, existe a possibilidade do seu problema não ser experiência nem competência, mas a sua empresa.
Os conceitos acima não só vão te ajudar a crescer em uma empresa boa, mas também a se sair bem em entrevistas de emprego. No fim das contas só sai perdendo quem te perder, porque eles ainda vão te fazer o favor de criar aquela casca que você vê nos profissionais senior.